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Archive for the ‘Biografia’ Category

Uma biografia de Joana d’Arc é coisa de se estranhar. Não precisa ser um grande conhecedor de História para saber que a Donzela de Orléans é um daqueles personagens cuja vida oscila entre os fatos e o mito. Embora seja impossível dizer que Joana d’Arc não tenha existido, praticamente tudo o que se fez a seu respeito corresponde a imagens condicionadas pelas tendências artísticas (entre outras tendências) dos séculos adiante  – aliás, para a categoria ‘Ainda não li: Joan of Arc in French Art and Culture: 1750 – 1855, Nora Heimann.

O estudo de Colette Beaune pretende, no entanto, analisar as representações que se fizeram de Joana d’Arc durante sua vida. E, com isso, demonstra que as imaginações sobre a heroína francesa povoaram mentes já durante sua existência. Santa, feiticeira, guerreira, bruxa, prostituta são estereótipos da época e, se pensarmos bem, compreendem tudo o que será feito depois a respeito da Donzela. O fato de ter sabido tão bem compreender as idéias dos contemporâneos a respeito de Joana não faz com que Beaune caia no engano contrário, e faz uma erudita demonstração das santas anteriores, guerreiras ou não, que tornaram fértil o terreno que veria nascer o mito de Joana. Ademais, não deixa de mencionar as virgens guerreiras que vieram após 1435, no historiador esforço de mostrar que Joana não foi única.

O livro se organiza em três partes, referentes a três fases da vida da protagonista. Em cada parte, os capítulos abordam de forma bastante ampla temas associados à santa. Isso resulta, para além de numa boa biografia, num apanhado de temas medievais muito interessantes. Porque, de fato, Colette Beaune faz da biografia de Joana d’Arc um ótimo livro de história do século XV. Isso, sob critérios historiográficos, atesta a competência de seu esforço.

É claro que (embora eu, como estudante de História, devesse ser vacinado contra isto) as divagações em torno de detalhes ao meu ver desprezíveis, o eterno receio de conclusões precipitadas e a busca pela exatidão factual me irritaram um pouco durante a leitura. Ambos, no entanto, são motivos do gênero biográfico, de modo que eu já deveria esperar esses pequenos atritos ao abrir o livro. Portanto, nada disso compromete a qualidade do estudo. É um bom livro.

Jules Bastien-Lepage, Jeanne d'Arc (1879).

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